A Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira o dono de um sítio que abrigou por oito dias os dois fugitivos do presídio federal de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte. O mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, de 38 anos, é o quinto homem a ser detido sob suspeita de colaborar na fuga de Rogério da Silva Mendonça, o Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, o Deisinho, que escaparam da unidade de segurança máxima em 14 de fevereiro e desde então continuam foragidos.
Os investigadores apontam que Fernandes recebeu R$ 5 mil para dar auxílio aos foragidos. Ele teria fornecido à dupla uma cabana em sua propriedade na zona rural de Baraúna (RN), que fica a cerca de 30 quilômetros da penitenciária federal na divisa entre Rio Grande do Norte e Ceará. Nesse local, eles dormiram, se alimentaram e cavaram buracos para não serem vistos pelos helicópteros nem pelos drones com sensores de temperatura.
Fernandes chegou a procurar a polícia para dizer que foi ameaçado pelos dois fugitivos. Ele prestou depoimentos na última sexta e sábado. A PF, no entanto, identificou inconsistências nos relatos e pediu um mandado de prisão contra ele, que foi deferido pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte nesta segunda-feira.
Em coletiva nesta segunda-feira, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que eles ainda estão "nas cercanias" do presídio. — Aa informações são que ainda estão na região. Hoje tivemos outra prisão, mediante mandado judicial, de um colaborador. Imaginamos que estão nas cercanias — disse o ministro Ricardo Lewandowski, referindo-se ao mecânico.
Em conversa com jornalistas no fim de semana, Ronaildo contou que os fugitivos chegaram em seu sítio no sábado, dia 17, e ficaram por lá durante oito dias. Num primeiro momento, segundo ele, os dois pediram calma e disseram que nada aconteceria com a sua família. Depois, ele relatou ter sido ameaçado de morte, caso não cumprisse com o combinado de comprar diariamente bolacha, iogurte e carne enlatada para a dupla.
Estava em casa com a minha esposa quando eles chegaram e invadiram a porta. Não mexeram com a gente, só pediram para ficarmos calmos e que fizéssemos o que eles pedissem. (Deram) garantia que ninguém mexeria com a nossa família, mas sabiam que eu trabalhava em oficina, sabiam quase dos meus passos todinhos — relatou o mecânico.
A polícia investiga se o homem foi cooptado ou coagido pelos dois criminosos.
- Me ameaçaram numa parte. Disseram que, se fizesse o que estavam pedindo, ninguém mexeria com a minha família. "Tem gente te observando" (disseram os fugitivos) — contou ele.
Quatro homens suspeitos de ajudar fugitivos de Mossoró foram presos
A PF já havia prendido outros quatro homens suspeitos de ajudar os dois fugitivos do presídio federal de Mossoró. Um deles é o irmão de Deibson Nascimento. Preso na última sexta-feira, no Acre, Johnney Weyd Nascimento foi condenado por roubo e participação em organização criminosa e tinha um mandado de prisão em aberto.
Além das prisões, os agentes cumpriram nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró (RN), Quixeré (CE) e Aquiraz (CE). Os investigadores desconfiam que os foragidos estão recebendo apoio de integrantes do Comando Vermelho, que atuam na região. Um carro e armamento chegaram a ser apreendidos na residência de um dos alvos.
Quem são os fugitivos de Mossoró?
Considerados criminosos de "alta periculosidade", segundo o Ministério Público do Acre, a dupla é vinculada ao Comando Vermelho, facção criminosa que nasceu no Rio de Janeiro, mas se expandiu para as regiões Norte e Nordeste. Deibson, inclusive, é apontado como um dos fundadores do grupo no Estado.
Segundo as investigações do MP, eles estariam tentando criar uma nova facção no Acre, quando foram transferidos para o presídio federal de Mossoró em setembro de 2023. Na ocasião, eles haviam participado de uma rebelião no presídio estadual Antônio Amaro, em Rio Branco, que resultou na morte de cinco detentos - três deles decapitados -, que pertenciam a uma facção rival ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Essa ocorrência motivou a transferência deles para o sistema penitenciário federal, que até este ano nunca havia registrado nenhuma fuga.
O Clobo.
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